terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Pré-vestibulares comunitários se consolidam no papel de aliados dos alunos de baixa renda

Segue reportagem do jornal O Globo Online. São esses resultados que me motivam a continuar participando do Vetor.

abraços a todos

"Pré-vestibulares comunitários se consolidam no papel de aliados dos alunos de baixa renda que sonham com uma vaga na universidade
Publicada em 02/02/2010 às 11h45m
Lauro Neto

RIO - Tiago Santana, de 21 anos, e Julio Falcão, de 27, acabam de ser aprovados para Ciências da Computação na PUC-Rio. Os dois estudaram durante todo o ensino médio em colégios estaduais, mas não têm dúvidas na hora de afirmar que conseguiram uma vaga na universidade graças ao que aprenderam no pré-vestibular comunitário InVest, criado por ex-alunos do Colégio Santo Inácio. Assim como Julio, que é pedreiro, e Tiago, que entregava quentinhas, muitos estudantes recorrem aos cursos comunitários para reforçar a formação obtida na rede pública.

- Refiz meu ensino médio no InVest. O colégio estadual em que estudei era muito fraco, e eu tinha consciência de que me formei sem a base necessária - diz Tiago. Ex-aluno do InVest, Getúlio Fideles fez a pesquisa para sua monografia final da graduação em Ciências Sociais na PUC-Rio com 130 alunos do pré-comunitário. Ele descobriu que 98% dos entrevistados acreditavam que entrar numa universidade permitiria alcançar melhores rendimentos no mercado de trabalho.

- Para estudantes carentes, os pré-vestibulares comunitários (PVCs) são uma alternativa à precária qualidade da educação adquirida no ensino público. Mas a existência desses cursos é uma incoerência por substituir uma tarefa que cabe ao governo - opina Getúlio, morador da Rocinha que hoje trabalha com pesquisa institucional na PUC-Rio e é o único funcionário remunerado do InVest.

Kadjyna Silva, Gabriela Duarte e Henrique Lima também acreditam que não teriam conseguido passar para a PUC se não fossem as aulas no Vetor, cujas aulas acontecem à noite, no Colégio Santo Agostinho do Leblon. Para as jovens de 18 anos, moradoras da Rocinha, o curso foi fundamental.

- Aprendi coisas no Vetor que nunca vi na escola - compara Gabriela, que concluiu o ensino médio na rede estadual e vai cursar Geografia.

- O curso me deu uma base que não tive na escola pública, cuja estrutura é deficiente, e as matérias não são aprofundadas - avalia Henrique, de 17 anos, aprovado em Informática. Para o coordenador pedagógico voluntário do Vetor, Marcello Spolidoro, de 26 anos, os PVCs são um complemento da educação pública. Professor de Biologia de colégios particulares e estaduais, ele tem base para comparação.















Foto: Simone Marinho - O Globo

- É mais uma alternativa para o ingresso na universidade. É preciso educar de maneira diferente, de acordo com a realidade e a defasagem desses alunos, que encontram muitas dificuldades na rede estadual - ele explica. Frei David Santos,
diretor nacional da Educafro, destaca a importância dos PVCs como complemento de alternativas como as cotas e o ProUni:

- Eles nasceram para denunciar o abandono do ensino médio na rede pública e despertaram a juventude pobre para disputar os espaços nas universidades públicas, quebrando a hegemonia da classe financeiramente mais bem situada - diz.

Aluna do oitavo período de Educação da UFF, Priscila Costa se encaixa nesse grupo. Depois de cursar o ensino médio na rede estadual, ela estudou num PVC da universidade e hoje é coordenadora do pré-vestibular popular Práxis, que funciona como projeto de extensão da federal fluminense. Segundo ela, a evasão é um dos principais obstáculos enfrentados pelo curso, já que grande parte dos alunos o abandona quando começa a trabalhar.

- Iniciamos o ano com cerca de 60 alunos, mas só metade chega ao final. Desses, 15 conseguem entrar na universidade, em média, por ano. Considero satisfatório esse índice de aprovação. O objetivo principal dos "prés" é democratizar o acesso à universidade pública e, em certa medida, acabamos substituindo o papel do ensino médio, já que a educação pública é precária - avalia Priscila.

A iniciativa é tão bem sucedida que até as universidades públicas a apoiam. Na UFRJ, há dois pré-vestibulares como projeto de extensão. O Samora Machel dá prioridade aos candidatos que terminaram o ensino médio em escola pública, moradores do entorno do Fundão e de renda familiar per capita de um salário mínimo. Já o pré-universitário de Nova Iguaçu é uma parceria da UFRJ com a prefeitura do município e se destina a seus moradores. Em quatro anos de funcionamento, foram mais de 300 aprovações para universidades públicas.

- Para as pessoas de baixa renda, é uma das únicas formas de se chegar à universidade, pois só o ensino médio não dá conta, e elas não teriam como pagar um pré-vestibular.


Para a UFRJ, é mais uma forma de democratizar o acesso - diz Ana Ines Sousa, superintendente acadêmica de extensão da UFRJ.

Em parceria com a Unirio, o Instituto Militar de Engenharia criou este ano o Ação-IME, voltado para alunos de baixa renda interessados em cursos superiores na área de exatas. A primeira turma começa em março e terá 15."


Fonte:
http://oglobo.globo.com/educacao/vestibular/mat/2010/02/02/pre-vestibulares-comunitarios-se-consolidam-no-papel-de-aliados-dos-alunos-de-baixa-renda-que-sonham-com-uma-vaga-na-universidade-915763620.asp